quarta-feira, 6 de novembro de 2019


Todo dia 7 17 e 27 vejam na net o blábláblá do Zetti.

A SAGA DE UMA GOTA
(Zetti Nunes)

O oriente dá a luz ao sol nascente.
Enquanto isso, o leste sai da cama e se veste sonolento e sanguinolento.
Num dado momento na rósea flor do pessegueiro brilham os olhos de uma gota de orvalho. Em baixo, brilham os olhos de um olho d’água que convida: vamos orvalho pula desse galho! Vamos correr para o córrego?
Mais abaixo, a vida na lagoa convida: entrem vamos descansar um pouco em mim?
Mais na frente e todo prosa, o Rio Pedrosa: gotas me sigam e contornem meu “poço da volta” do qual me orgulho dos mergulhos do Cessito e do Ito balançando os periquitos. O que não me orgulha é o “pum” na água pra fazer borbulha!
Venham! — Disse o Rio Chopinzinho. Sou das escarpas e ex-carpas que são gotas do meu sangue.
Venham todas as gotas quero conhecer aquela do pessegueiro, estou faceiro sou o Rio Chopim. Algumas gotas — ai de mim! — Estão céticas porque pensam que sou um lago das hidrelétricas.
Meu caro Chopim, teu pai Iguaçu nasceu em Curitiba (PR), e esta mesma cidade matou meu filho Rio Belém. Mais para o fim de mim Chopim, nós, gotas, teremos asas como o pássaro Chopim e voaremos do alto das cataratas.
É por aqui que vai pra lá? — brincou o Iguaçu com o Rio Paraná. Naturalmente meu filho. E você já saltou de salto alto? — num sentido sim, n’outro claro que não, paizão paranazão. Filho tens uma bonita queda...  e eu que tinha Sete Quedas! Os humanos tinham cataratas nos olhos, pois não viam essas sete belezas que enterraram para construir Itaipu. Filho Iguaçu, foi como enterrar sete filhos.
Paraná acolho tuas gotas, incluso a do meu neto, aquele das cataratas: sou o Rio da Prata. Traga teus peixes, mas não te queixes das tuas sete culpas ou tuas sete quedas. Se caiu num dos sete Pecados Capitais, se levante! Disse o Mestre que serás perdoado: “Não te digo até sete, mas até setenta vezes sete vezes”. (Mt 18,32).
Os peixes que navegam em teu ventre, que entrem. Sou o mar e todas as gotas descansarão em mim. Comparam-me com o Deus Uno e Amoroso: acompanho a jornada de cada gota, cada uma com sua saga.
Disse eu, para aquela que brilhava no róseo pessegueiro: gotinha minha, venha! Ela sentiu o marulhar das minhas ondas. Insisti: por agora não é hora de “fazer onda”, só depois. Então venha!
Cada gota morre para si e se torna uma imensa e amorosa gota.
Dorival Caymmi tem razão: “é doce morrer no mar”...
Está implícito nas gotas a unidade:
Há um mar em cada uma delas e este mar,
É uma gota perante o Cosmos
Que por sua vez é uma gota na vastidão...
Do amor.
Do róseo pessegueiro
E das gotas do mundo inteiro
Lacrimejam emoções:
Agora sabemos que há mar.
Amar
Amar
Amar.


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