CONTO MÍNIMO -
PRIVILÉGIO MÁXIMO
(Zetti Nunes)
Um dos dez captou a angústia da mãe.
No
parto anterior daquela porca ruiva,
todos foram vendidos e assados.
– Mãe, por
favor, não me tire daqui deste lar quentinho de você.
Filho, disse a
mãe: – vocês tem que sair do meu ventre, aí é um lar provisório.
– Então que eu
nasça sem vida, quero escapulir da festa do natal.
Sairei de
fininho
Antes de entrar
na vida;
Antes do parto,
parto eu em retirada.
Filho, grunhiu a
mãe: – sofro mais do que no parto,
quando apartam
vocês de mim,
porque sei que
serão assados.
Nessa hora eu
também não queria ter nascido.
Seria um dom
divino, não ter nascido suíno.
Filhinho, queria
te ajudar, mas
O dom da “não
vida”, não posso te dar.
– Mãe, então vou
rezar à Divina Mãe.
Juntou as mãos
(patas dianteiras) e disse:
Mãe Vida, me
recolha de volta ao teu ventre e me salve de nascer!
Rogo-te o
privilégio de me safar de nascer,
pelo menos até o dia em que, livre, a mãe
natureza cuide de mim.
Pelo menos até o
dia em que possa mamar, fuçar no brejo,
grunhir feliz e morrer somente quando a
hora chegar.
De cascos unidos
e postos em oração te peço mãe:
– postergue meu nascimento.
Ó Grande Mãe do
Universo,
Pela última vez
te imploro:
concede-me essa
dádiva
– o privilégio
máximo de não nascer.
Após alguns
dias, o patrão do chiqueirão telefonou ao empregado:
- Da porca
ruiva, quantos leitões nasceram para a festa do natal?
-Nasceram dez, mas
um deles...
o patrão interrompeu. – Dez é conta certa: dou um para
a igreja
como dízimo, os outros nove
venda aos vizinhos para a ceia natalina.
– Mas patrão não
são dez, um deles estava imóvel
e com as patinhas dianteiras grudadas entre si.
Era como se estivesse rezando.
– Nasceu morto,
é?
– É sim senhor!
Todo dia 7 17 e 27
vejam na net o blábláblá do Zetti.