quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Todo dia 7 17 e 27 vejam na nete o blablablá do Zetti


A PROPÓSITO DAS QUEIMADAS PROPOSITAIS
(Zetti Nunes)

Amazônia em chamas nos chama à atenção. Por lá, no entanto outras chamas nos chamam à reflexão: o desmatamento e as queimadas propositais para plantar soja que depois estará no prato e na forma de bicho morto alimentado por esses grãos. Embora trágica esta seca, não se compara com essa tragédia proposital e de todos os dias.
Desde os anos 70 e a todo instante, animais fogem deixando seus filhotes para trás ou no ninho. Vidas trocadas por dólares, florestas trocadas pela paisagem monótona da monocultura.
Para mim mais vale meu ninho que foi desfeito diz o passarinho, e digo eu, sangrando meu velho coração.
Acima das velhas árvores agora em carvão asas mil sobrevoam no vazio: onde estão meus ovinhos, meus filhos, meu ninho?
Sou um menino inconsolável porque também tenho asas. Meus filhotes foram achados mortos ou assados no ninho. São pedaços de mim sangrando.
Sei muito bem da frieza humana, mas insisto até a exaustão. Sou como aquele beija-flor que pegava umas gotas do rio para apagar o incêndio na mata e dizia que estava fazendo a sua parte.
Um só ninho desfeito de propósito já é razão para não desmatar e queimar.
Um só ninho repito. Porque eu sou o passarinho e ele sou eu. Suas asas de liberdade são minhas asas, sua dor é a minha dor.
Dizem os vegetais e animais em meio às labaredas propositais: o Inferno de Dante são os humanos.
Espero contra toda a esperança, diz o beija-flor ao carregar uma gota de água no bico.
Conformar-se?
Eu? Jamais!
Porque sou e sempre serei aquele mesmo beija-flor sonhador.



segunda-feira, 16 de setembro de 2019


Dia 7 17 e 27 vejam na net o blábláblá do Zetti.

VERINHA UMA PAIXÃO
(Zetti Nunes)

Estávamos num sítio muito bonito. Meu amigo Zé era cheio de histórias.
Certa vez confessou-me sua paixão de adolescente: - Lembro-me como se fosse hoje, disse ele. Tinha 15 anos quando olhei bem de perto a parenta que vinha de longe e todo ano passava as férias lá em casa.
No dia em que despertei para ela, era seu aniversário. Eu estava na janela e ela veio pelo lado de fora. Ficamos face a face, bem juntinhos. Olhos verdes, às vezes claros, às vezes oliva, conforme a claridade ou seus sentimentos, não sei. O que sei é que ali junto dela e pela primeira vez, embasbaquei, flutuei, perdi o ar.
Perguntei ao Zé: - Eu a conheço?
No final desta história você verá a Verinha ao vivo e a cores. E continuou.
- Exalava ela uma fragrância sutil de erva doce ou de uma erva de beira de estrada onde zumbem as abelhas, uma quase hortelã, um quase eucalipto, uma flor de lis!
Os anos com vagar festejavam seus aniversários. Sempre charmosa vestidos alegres, ora um carmesim, ora um amarelo girassóis, ora um ora-pró-nóbis, ora um arco-íris, sei lá!
Talvez ela fosse o próprio arco-íris disfarçado de mulher.
Zé brincou comigo:
- Você já viu arco-íris perfumado? E arco-íris com mais de uma curva?
Em cada curva dessa estrada - meu caminho, mau caminho - um suave e doce balanço.
Este ano, como nos outros, Verinha ficou bem frente a mim no varanda. Silente aconchego. Estavam ainda mais belos seus olhos. Um verde que me impregnou até as entranhas, cheia do seu cheiro, aquele que bem conheço e me embeveço. Posso exclamar agora, sem sombra de dúvida e sem nenhuma sombra de tristeza: Que quero eu mais da vida, se tenho seu verde olhar, seu perfume?
Pare com esse mistério! – disse eu.
- Sim, vamos pra varanda! – disse o Zé, e citou a bíblia em Mateus 6 versículo 29: nem o rei Salomão se vestiu como a Verinha.
Mas não queria só dizer quem ela é. Muito mais do que dizer, quero festejá-la.
Mês de agosto, dela lembro,
E Já começo a ser feliz,
Antes mesmo de setembro,
Esperando a flor de liz.
Vera, deveras, não é uma flor de liz que tem  somente um matiz. São todas as flores. E não é uma prima qualquer, uma estação qualquer de um ano qualquer.
Amo-te, cheirosa e multicolorida PRIMA... VERA!

sexta-feira, 6 de setembro de 2019


Dia 7 17 e 27 vejam na nete o blábláblá do Zetti.

COMUNHÃO parte III
(Zetti Nunes)

Os detalhes complicam: a paisagem geral se vê do mirante.
As reflexões que agora partilham têm como fundo um sonho: amar (no infinitivo) era a mensagem, portanto sem u mensageiro do amor.
Não há um alguém separado no espaço inseparável que contempla algo separado de si:  é a contemplação sem um sujeito que contempla.
Entre os espaços da mente, silêncio! O que é isto? É comparável a um vaso cheio de vazio e ao mesmo tempo diferente do nada e do existir. Não havendo o ruído mental, abre-se um espaço sagrado.
Isto é meditação. Digo mais: observe-se que ninguém está separado daquilo que observa. Não há um ser que observa, todavia existe a observação. Porque no universo, só existe o geralzão e a tendência deste é descentralizar-se e bem assim o lado espiritual (que não tem lado). Focalizar ou detalhar, cai no supérfluo e no superficial.
Um “big-bang” difuso é a nossa consciência, o nosso ver e o nosso entendimento.
Caminha-se na beleza em cosmovisão de si mesma e sem voltar-se para si mesma.
Há uma intensão secreta nesse tal plural. Senão, vejamos:  a vida é a multidão, família única, todos na pluralidade. Pra que afinal? — Não seria para que exista a comunhão?
Sermos o plural é condição “sine qua non” para que haja a unidade subjacente a ele.
Pluralismo sem personalismo, um reinado sem rei.
Há um testemunhar silencioso sem o sujeito que testemunha e um observar sem uma entidade separada que observa, quero dizer, sem um observador.
Na vastidão, não há salvador ou apoio de algo separado porque a comunhão é a plenitude em si mesma.
É vasto o pasto e os seres na pastagem e não há quem pastoreie. Num só tempo somos mestres e alunos. Importa que no momento de ser mestre este não quer se destacar. Mestres ou pastores no sentido de facilitadores uns dos outros, para que haja comunhão e não salvação individual. Comunhão não vai na contramão do cristão, porém a salvação individual do cristão vai na contramão da comunhão.
Facilitarmo-nos já é comunhão, ou que seja, ajudar a nos soltarmos do individual e sermos 1 com tudo que vive, inclusive com os humanos!
Na mágica, o ilusionista, coloca a ceia na mesa a qual se apoia em suas quatro pernas. Em seguida o mágico deixa a mesa sem pernas. Resta a mesa e  a ceia levitando no espaço, sem qualquer apoio.
É comparável à mesa da sagrada comunhão entre todos os seres que independe de fatores externos.
O mágico nos ilude ao levitar a mesa, porém, o enlevo da comunhão é a essência da ceia da vida, a levitação do pesado mundo, o alfa e o ômega, o princípio e o fim.
Este agora atentíssimo e imemorial é o entendimento que se funde em si mesmo, sem contudo se voltar para si.
Amor, unidade e comunhão estão além da expressão palavresca.
A despeito desse limitável, quem puder captar um pouquinho desse "além”, que capte; perceber, que perceba; levitar, que levite; comungar, que comungue.
Um altissonante convite se difunde sem que haja um centro de difusão.
Não há um ser individual que convida, no entanto de um silêncio sagrado ressoa o convite:
 comunguemos a Santa Ceia da Vida!