domingo, 26 de janeiro de 2020


CONTO MÍNIMO - PRIVILÉGIO MÁXIMO
(Zetti Nunes)

Um dos dez captou a angústia da mãe. 
No parto anterior daquela porca ruiva, 
todos foram vendidos e assados. 
 – Mãe, por favor, não me tire daqui deste lar quentinho de você.
Filho, disse a mãe: – vocês tem que sair do meu ventre, aí é um lar provisório.
– Então que eu nasça sem vida, quero escapulir da festa do natal.
Sairei de fininho
Antes de entrar na vida;
Antes do parto, parto eu em retirada.
Filho, grunhiu a mãe: – sofro mais do que no parto,
quando apartam vocês de mim,
porque sei que serão assados.
Nessa hora eu também não queria ter nascido.
Seria um dom divino, não ter nascido suíno.
Filhinho, queria te ajudar, mas
O dom da “não vida”, não posso te dar.
– Mãe, então vou rezar à Divina Mãe.
Juntou as mãos (patas dianteiras) e disse:
Mãe Vida, me recolha de volta ao teu ventre e me salve de nascer!
Rogo-te o privilégio de me safar de nascer, 
pelo menos até o dia em que, livre, a mãe natureza cuide de mim.
Pelo menos até o dia em que possa mamar, fuçar no brejo, 
grunhir feliz e morrer somente quando a hora chegar.
De cascos unidos e postos em oração te peço mãe: 
– postergue meu nascimento.
Ó Grande Mãe do Universo,
Pela última vez te imploro:
concede-me essa dádiva
– o privilégio máximo de não nascer.
Após alguns dias, o patrão do chiqueirão telefonou ao empregado:
- Da porca ruiva, quantos leitões nasceram para a festa do natal?
-Nasceram dez, mas um deles... 
o patrão interrompeu. – Dez é conta certa: dou um para 
a igreja como dízimo, os outros nove
 venda aos vizinhos para a ceia natalina.
– Mas patrão não são dez, um deles estava imóvel 
e com as patinhas dianteiras grudadas entre si.
  Era como se estivesse rezando.
– Nasceu morto, é?
– É sim senhor!

Todo dia 7 17 e 27 vejam na net o blábláblá do Zetti.

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