A PROPÓSITO DAS QUEIMADAS PROPOSITAIS
(Zetti Nunes)
Amazônia em chamas nos
chama à atenção. Por lá, no entanto outras chamas nos chamam à reflexão: o
desmatamento e as queimadas propositais para plantar soja que depois estará no
prato e na forma de bicho morto alimentado por esses grãos. Embora trágica esta
seca, não se compara com essa tragédia proposital e de todos os dias.
Desde os
anos 70 e a todo instante, animais fogem deixando seus filhotes para trás ou no
ninho. Vidas trocadas por dólares, florestas trocadas pela paisagem monótona da
monocultura.
Para mim
mais vale meu ninho que foi desfeito diz o passarinho, e digo eu, sangrando meu
velho coração.
Acima das
velhas árvores agora em carvão asas mil sobrevoam no vazio: onde estão meus
ovinhos, meus filhos, meu ninho?
Sou um
menino inconsolável porque também tenho asas. Meus filhotes foram achados mortos
ou assados no ninho. São pedaços de mim sangrando.
Sei muito
bem da frieza humana, mas insisto até a exaustão. Sou como aquele beija-flor
que pegava umas gotas do rio para apagar o incêndio na mata e dizia que estava
fazendo a sua parte.
Um só ninho
desfeito de propósito já é razão para não desmatar e queimar.
Um só ninho
repito. Porque eu sou o passarinho e ele sou eu. Suas asas de liberdade são minhas
asas, sua dor é a minha dor.
Dizem os
vegetais e animais em meio às labaredas propositais: o Inferno de Dante são os
humanos.
Espero
contra toda a esperança, diz o beija-flor ao carregar uma gota de água no bico.
Conformar-se?
Eu? Jamais!
Porque sou e
sempre serei aquele mesmo beija-flor sonhador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário