Todo dia 7, 17
e 27 vejam na net o blábláblá do Zetti.
DISSIDÊNCIAS
(Zetti Nunes)
Este texto no geral foi extraído
do livro “Em defesa dos animais” de Matthieu Ricard na parte “Vozes Dissidentes”.
É um resumo, por isso na maior parte dispensei as aspas.
O poeta romano Ovídio tem comigo
algumas coincidências. Era ele além de poeta, vegetariano. O que deveras
surpreende é que nasceu no mesmo dia mês e ano que eu, porém antes de Cristo!
Vejamos: nasci em 20/03/1943. Ovídio em 20/03/43 aC. Escrevi um texto com título “Metamorfose”
e Ovídio um livro com o título “Metamorfoses”.
Transcrevo um trecho onde
transparece seu lado sensível que se parece comigo:
“Há o
trigo,
Os frutos
que vergam
Com o seu
peso os ramos flexíveis;
Uvas que
amadurecem nas verdes videiras;
As ervas
comestíveis e os legumes;
A terra é
pródiga...”
“...oferece em vossas mesas tudo o que não exige sangue nem
morte...”
“Quanta desgraça e maldade em fazer nossa própria carne
engolir carne...”
“...em nutrir uma criatura viva com a morte de outra.”
— Ovídio, sou o vídeo de você!
São Francisco de Assis pedia aos irmãos que venerem e
reverenciem tudo o que vive. No entanto, em nenhuma de suas biografias, se diz
que ele era vegetariano. Veja bem: em nenhuma! É o que pesquisou Matthieu
Ricard. É claro: seus biógrafos engoliam
animais, mas não digeriam isso e nem o que disse o arcebispo Robert Runcie: se
Deus fez tudo com amor, nada pode ser de pouco ou nenhum valor. (parece ele com
São Francisco, não?)
Essa teologia não só é abrangente
e coerente, é bela. Quero dizer: se temos o poder nas mãos é para proteger e
zelar. Os cristãos empobrecem a “misericórdia” ao restringi-la somente aos
humanos e a alguns animais.
Resumo também o que disse um outro
Francisco o Papa atual, na sua encíclica “Laudato si”:
“...numa comunhão universal nada e
ninguém fica excluído..”
“...é contrário à dignidade humana
fazer sofrer inutilmente os animais e dispor de suas vidas de modo
indiscriminado.”
Meu caro Fratelli: só falta a você
ser coerente com suas palavras e entrar para a confraria... dos vegetarianos!
O padre vegetariano e filósofo Jean
Meslier também foi exceção na Igreja, mas depois se tornou ateu. Julgava ele a
crueldade dos cristãos semelhante a esse mesmo Deus hostil aos animais.
Caro Jean: desse “deus” minúsculo
também sou ateu.
Aqui onde moro fui num culto
evangélico em que havia uma dúzia de pessoas e o palestrante que me conhecia
disse para todos ouvirem e citando a Bíblia que Deus gosta do cheiro da carne
assada. Aí fiquei imaginando Jesus atrás do balcão de um açougue com um avental
branco e manchado de sangue! Valha-me Deus Orlando para esse teu deus, sou
ateu.
Há dois séculos e meio atrás o
pastor anglicano James Granger fez um sermão a favor da proteção aos animais e
alguns membros da sua Igreja julgaram que ele tinha enlouquecido!
Atualmente outro anglicano e
teólogo Andrew Linzey tem livros escritos sobre a questão animal. É
contundente, por exemplo, o que ele diz sobre o massacre de focas para a venda
de seu pênis como afrodisíaco.
É o tal antropocentrismo: se é bom
para nós, que se danem os animais.
Diz o Francisco Papa na encíclica
citada que o coração é um só. Coincide com o que disse outro católico e poeta
francês Afonso de Lamartine:
“Não temos dois corações, um para
os animais e outro para os seres humanos. Ou temos um coração, ou não o temos”.
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